Vivemos em um mundo cada vez mais conectado, e parte significativa da nossa vida acontece no ambiente online. Compartilhamos memórias, ideias, conquistas, rotinas e afetos nas redes sociais. Quando uma pessoa morre, o impacto dessa ausência também se estende ao mundo digital — e surge então uma nova camada do luto: o luto digital.
Mas o que acontece com os perfis nas redes sociais após a morte? Eles são apagados? Permanecem ativos? Quem decide o que deve ser feito com essas contas? Neste artigo, vamos explicar como funciona o processo em diferentes plataformas, como lidar com o legado digital de quem partiu e apresentar exemplos de perfis que se tornaram verdadeiros memoriais online.
O que é luto digital?
O luto digital é a vivência do luto no ambiente virtual. Ele inclui tanto a maneira como os vivos se relacionam com os perfis de quem morreu, quanto as decisões práticas sobre o que fazer com essas contas.
Essa dimensão do luto pode se manifestar de várias formas: familiares e amigos que visitam os perfis para matar a saudade, seguidores que continuam comentando em postagens antigas, ou mesmo páginas que se tornam espaços de homenagem e celebração da memória de alguém que partiu.
O que pode ser feito com os perfis após a morte?
Cada rede social tem políticas específicas para lidar com contas de usuários falecidos. Veja como funciona em algumas das principais plataformas:
Facebook: memorialização ou exclusão
O Facebook permite que o perfil de uma pessoa falecida seja memorializado, desde que alguém envie um pedido formal e um comprovante de óbito. Nesses casos, a conta continua ativa, mas com a frase “Em memória de” antes do nome. Amigos e familiares podem continuar publicando mensagens e lembranças, mas a conta não pode ser acessada por ninguém.
Outra opção é a exclusão definitiva do perfil, solicitada por um parente próximo.
Exemplo: Um exemplo notável de perfil memorial no Facebook é o da cantora Whitney Houston. Após seu falecimento em 2012, sua página oficial foi transformada em um memorial, mantendo ativa sua presença digital e permitindo que fãs de todo o mundo continuem homenageando sua memória.

Este perfil permanece como um espaço de celebração da vida e legado da artista, onde são compartilhadas fotos, vídeos e mensagens em sua homenagem.
O Facebook também permite que o próprio usuário, em vida, defina um “contato herdeiro” — alguém autorizado a gerenciar o perfil após sua morte.
Instagram: manter, memorializar ou excluir
No Instagram, os familiares podem pedir a memorialização da conta, que impede que o perfil seja alterado, mas mantém todas as postagens públicas. O perfil memorial não aparece em sugestões e ninguém pode fazer login ou postar algo novo.
Exemplo: após a morte da cantora Marília Mendonça em 2021, sua conta foi mantida ativa. As últimas publicações continuam recebendo comentários e curtidas dos fãs, funcionando como uma forma de manter sua memória viva.
Também é possível solicitar a remoção do perfil, caso desejado pela família.


X (antigo Twitter): não há memorial, mas há silêncio
O X (Twitter) ainda não oferece uma função de memorialização, mas permite que parentes solicitem a remoção do perfil de alguém que morreu. Muitos perfis permanecem ativos por anos, funcionando como arquivos digitais.
Exemplo: o último tweet do ator Chadwick Boseman, publicado por sua família, anunciando sua morte, é um dos mais curtidos da história da plataforma.

YouTube, TikTok e outras redes
Outras plataformas, como YouTube e TikTok, não têm políticas claras de memorialização. Em geral, os perfis continuam ativos, especialmente quando estão vinculados a canais de grande audiência ou geradores de renda.
Exemplo: o canal da cantora Christina Grimmie, assassinada em 2016, segue no ar e com vídeos sendo assistidos por milhões de fãs no YouTube.
A importância do legado digital
Diante dessa nova realidade, cresce o número de pessoas que se preocupam com o legado digital — o conjunto de informações, perfis e conteúdos que permanecem na internet após a morte. Decidir o que será feito com essas contas pode fazer parte do planejamento de vida e morte.
Assim como escrevemos um testamento para bens materiais, refletir sobre como queremos ser lembrados no universo digital é uma forma de cuidar da nossa memória e também de quem ficará.
Redes sociais como espaços de homenagem
Os perfis póstumos podem servir como um consolo para os que ficam. Em vez de serem vistos como “contas congeladas”, podem se transformar em espaços afetivos onde é possível revisitar memórias, rever fotos, ouvir a voz de quem partiu e sentir que, de alguma forma, aquela conexão permanece viva.
Perfis como o do cantor Gabriel Diniz, o da princesa Diana (mantido por instituições oficiais), e o do ator Robin Williams continuam recebendo homenagens e sendo visitados por milhares de pessoas todos os dias.
O luto digital é uma das expressões mais recentes da forma como lidamos com a morte na era da tecnologia. Entender como funcionam os perfis nas redes sociais após a morte e como podemos planejar o nosso legado online é uma forma de respeitar a memória de quem partiu e acolher os sentimentos de quem permanece.
Em um mundo onde quase tudo é compartilhado, talvez as redes sociais também possam se tornar espaços legítimos de despedida, lembrança e amor.