O luto neonatal, caracterizado pela perda de um bebê antes ou logo após o nascimento, é uma das experiências mais dolorosas que uma família pode enfrentar. Embora a dor da mãe receba mais atenção, e com razão, é fundamental reconhecer que o luto também atinge profundamente o pai, os irmãos (quando há) e os avós.

Entender essa dor como coletiva é essencial para promover acolhimento e apoio mais eficazes. Neste texto, vamos falar sobre como o luto neonatal afeta toda a família e a importância de ampliar o olhar para a família do bebê que partiu.

O luto do pai no luto neonatal

Pesquisas mostram que o sofrimento paterno no luto neonatal muitas vezes é invisibilizado. De acordo com um estudo publicado no Journal of Perinatal & Neonatal Nursing (2018), pais enlutados tendem a ser vistos como “apoiadores” da mãe, deixando de lado sua própria dor para cuidar da parceira.

Essa expectativa social pode levar o pai a reprimir seus sentimentos, aumentando o risco de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Segundo pesquisa da Universidade de Michigan (2017), homens que vivenciam a perda de um filho apresentam níveis significativamente mais altos de sintomas depressivos nos meses subsequentes.

A sociedade precisa enxergar que o pai também sofre e que ele também merece espaço para expressar seu luto.

O luto dos irmãos

Quando uma família perde um bebê, irmãos mais velhos. muitas vezes ainda pequenos, também sentem essa ausência de forma profunda, ainda que nem sempre saibam expressar em palavras.

Um artigo publicado no American Journal of Hospice and Palliative Medicine (2020) destaca que crianças enlutadas podem manifestar sua dor por meio de alterações de comportamento, regressão no desenvolvimento ou dificuldades escolares.

Além disso, irmãos podem sentir culpa (“Será que fiz algo errado?”) ou medo (“Meus pais podem me perder também?”). Por isso, é importante incluir os filhos nas conversas sobre o luto, de maneira apropriada para a idade, e dar espaço para que eles façam perguntas, expressem sentimentos e também participem de rituais de despedida, se desejarem.

O luto dos avós: dor dupla

Os avós experimentam uma dor em duas dimensões: a perda do neto esperado e o sofrimento dos próprios filhos. Muitas vezes, eles tentam ser o “pilar da família”, deixando de lado seu próprio luto para apoiar emocionalmente a mãe e o pai do bebê.

De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Loss and Trauma (2016), avós enlutados relatam sentimentos intensos de tristeza, impotência e, muitas vezes, uma sensação de exclusão dos rituais e processos de luto, que costumam se concentrar apenas nos pais da criança.

É importante reconhecer o direito dos avós de vivenciar e expressar seu luto — não como coadjuvantes, mas como protagonistas da própria dor.

Como acolher toda a família no luto neonatal

• Ofereça espaços seguros para todos: pais, irmãos e avós precisam de lugares onde possam falar sobre sua dor sem julgamento.
• Considere grupos de apoio familiares: participar de grupos específicos pode ajudar a validar os sentimentos de cada membro da família.
• Rituais de despedida: incluir todos nas cerimônias, como funerais ou memoriais, pode ajudar a simbolizar a importância daquele bebê para toda a família.
• Busque ajuda profissional: psicoterapia individual ou em grupo pode ser fundamental para o processamento do luto.

O luto neonatal é uma perda familiar. Cada membro da família (mãe, pai, irmãos e avós) carrega uma parte única dessa dor. Ao ampliar nosso olhar, conseguimos oferecer acolhimento verdadeiro a todos que amam esse bebê que partiu tão cedo.

Se você ou alguém próximo está vivendo um luto neonatal, saiba que não está sozinho. Há redes de apoio, grupos especializados e profissionais preparados para caminhar ao seu lado.