O Luto Silencioso De Quem Sonhava Ser Avô Ou Avó

Luto e Terapia

Quando pensamos em luto, geralmente nos vem à mente a perda de alguém que amamos. Mas há também outros tipos de luto, como perdas de sonhos, de projetos, de expectativas que não se realizaram.

Entre essas perdas, há uma dor que poucas vezes é reconhecida: a do homem ou da mulher que sonhava ser avô ou avó, mas que vê esse sonho não se concretizar porque seus filhos optaram por não serem pais.

É um luto sem cerimônia, sem rituais, sem despedida. É uma dor silenciosa que afeta muitas famílias.

O sonho de ser avô ou avó

A expectativa de ver a família crescer faz parte do planejamento de muitas pessoas. Pensar em carregar um neto no colo, ensinar brincadeiras, transmitir histórias de vida… Para muitos, é um sonho que dá novo significado ao envelhecer.

Quando esse desejo não se realiza, não por morte, mas por decisão consciente dos filhos, o que fica é um vazio difícil de explicar.

E essa escolha tem se tornado cada vez mais comum.

De acordo com uma pesquisa da Bayer realizada em 2023, 40% das mulheres brasileiras afirmam que não querem ter filhos. Já um estudo da Famivita mostra que, entre mulheres de 25 a 34 anos, quase 1 em cada 4 não planejam ter filhos. As razões são diversas: incertezas sobre o futuro, questões ambientais, instabilidade financeira ou simplesmente a decisão pessoal de não maternar ou paternar.

Essa mudança de comportamento traz impacto direto nas famílias. E, muitas vezes, quem sonhava com a chegada dos netos sente-se perdido entre o respeito pela escolha dos filhos e a tristeza pela expectativa que não se cumprirá.

Validar a dor: um passo importante

É importante entender: não se trata de julgar a escolha dos filhos. Optar por não ter filhos é um direito legítimo. Mas isso não apaga o direito dos pais de sentirem tristeza pela perda de uma expectativa que foi construída ao longo de anos.

Essa dor é real. E validá-la é essencial para que ela possa ser elaborada de maneira saudável, sem se transformar em ressentimento ou afastamento familiar.

Sentir tristeza, frustração ou até inveja ao ver amigos celebrando o nascimento de netos não é sinal de ingratidão nem de egoísmo. É humano.

A psicóloga Pauline Boss, criadora do conceito de luto ambíguo, descreve esse tipo de dor como aquela que envolve perdas sem desfecho claro. Quando o que se perde não é alguém, mas uma ideia, um futuro esperado — o sofrimento pode ser ainda mais confuso e silencioso.

Como lidar com o luto por não ser avô ou avó

  • Permita-se sentir: Não minimize sua dor. Reconheça seus sentimentos sem culpa.
  • Busque novos significados: a vida é feita de muitos papéis e formas de dar e receber amor. Talvez existam outras relações onde você possa exercer esse cuidado, seja com sobrinhos, afilhados, primos ou vizinhos.
  • Converse com alguém de confiança: compartilhar o que você sente pode trazer alívio e novas perspectivas.
  • Evite cobranças: lembre-se de que seus filhos não deixaram de amá-lo. Eles apenas traçaram um caminho próprio.
  • Procure apoio profissional: a terapia pode ser um espaço seguro para elaborar essa perda invisível e construir novos propósitos para esta fase da vida.

O luto pelo neto que não virá é um luto verdadeiro, ainda que invisível para a sociedade. Cada um precisa de tempo e espaço para reconhecer e ressignificar essa ausência.

Validar essa dor é também abrir caminho para viver relações mais autênticas e afetivas, respeitando as escolhas dos filhos e, ao mesmo tempo, honrando os próprios sentimentos.

Você não está sozinho.

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