O luto perinatal é a dor profunda vivenciada pelos pais e familiares diante da perda de um bebê. Diferente de outros tipos de luto, essa é uma dor que interrompe não uma história passada, mas um futuro inteiro que estava sendo construído com amor e expectativa.
Neste guia completo, você vai entender o que é o luto perinatal, suas manifestações e, principalmente, encontrar informações sobre como lidar e histórias de quem viveu essa dor tão profunda. Continue a leitura!
Luto perinatal: o que é?
O luto perinatal é uma experiência que abrange as perdas ocorridas durante a gestação — incluindo abortos espontâneos ou induzidos, gravidez fora do útero, morte de um gemelar (quando na gravidez de gêmeos, um deles falece); no momento do parto ou no período neonatal (nos primeiros 28 dias de vida do bebê).
É crucial entender que o luto não está apenas na perda física. Ele também se manifesta pela quebra de um projeto de vida, das expectativas em relação àquele filho e da transformação da identidade para pai e mãe.

Impactos do luto de bebê na barriga
Perder um filho na gestação é como ter um futuro inteiro, cuidadosamente sonhado, interrompido de forma inesperada. Diferente de outras perdas, que nos fazem lamentar um passado compartilhado com quem perdemos, aqui o luto é pelo adiamento de uma eternidade que nunca chegará.
Os pais choram não apenas por um embrião ou feto, mas por toda uma história de amor que estava por ser vivida: o primeiro sorriso, os passos incertos, a primeira palavra.
As emoções e pensamentos após a perda gestacional
Nesse cenário de dor, a mente e o coração são palco de uma verdadeira tempestade. É comum que a mãe, em especial, se veja atingida por uma culpa avassaladora, procurando por algo que possa ter feito de errado para justificar a dor irreparável.
Essa culpa muitas vezes vem acompanhada de uma percepção negativa sobre si, como se o corpo tivesse falhado. A mulher pode se sentir incompetente, questionando sua própria identidade feminina e materna.
Os pensamentos tornam-se recorrentes e confusos, assim como a dificuldade de concentração e a busca por um significado para a perda. É um luto que, por não ser socialmente reconhecido, pode fazer com que os pais se sintam sofrendo pela perda de alguém que o mundo à sua volta insiste em dizer que “não chegou a existir”.
As implicações do luto perinatal no casal

O luto perinatal não é vivido da mesma forma pela mãe e pelo pai, o que pode criar distanciamento e incompreensão no casal. Enquanto o luto materno é físico, espera-se socialmente que o pai seja o “pilar forte”, aquele que segura a barra, cuida dos trâmites burocráticos e ampara a companheira.
Muitas vezes, ele não se sente autorizado a chorar ou a expressar sua própria dor, que é igualmente real e devastadora. Esse desequilíbrio, se não for conversado e acolhido, pode tensionar a relação em um momento em que ambos mais precisam de apoio.
Além da dor emocional, o corpo da mulher vive uma contradição intensa. Ele se preparou para gestar, dar à luz e amamentar.
Com a perda, ele fica sem o seu objeto de cuidado, o que pode se manifestar em sintomas físicos como fadiga que impede de realizar qualquer atividade, distúrbios do sono (dificuldade para dormir ou sono excessivo) e uma sensação constante de vazio.
Algumas mulheres podem até experimentar sensações que se aproximam de alucinações, como a percepção de movimentos fetais fantasma, um eco doloroso e palpável da presença que se foi.
O papel da família e da rede de apoio no processo de luto perinatal
Ter a família ao lado ou contar com uma rede de apoio é um pilar fundamental no processo de elaboração do luto perinatal. Essa rede de acolhimento pode oferecer um porto seguro para que os pais naveguem por uma dor que tantas vezes é solitária e incompreendida.
Muitas vezes, a ajuda mais significativa é a mais concreta. Oferecer-se para cuidar de tarefas domésticas, preparar refeições ou cuidar de outros filhos da família pode aliviar a pressão do dia a dia, permitindo que os pais tenham o tempo e o espaço necessários para viver seu luto.
A presença silenciosa e respeitosa também é um conforto, assim como garantir a privacidade da família para que possam se despedir à sua maneira.
5 formas de amparar quem vive a perda gestacional

A presença compassiva é o maior presente para um coração em luto. Quem acolhe não precisa ter todas as respostas; seu papel é, sobretudo, o de testemunhar e conter essa dor, oferecendo um espaço seguro onde as lágrimas e as memórias possam fluir sem pressa.
Se alguém que você ama passa pelo luto perinatal, veja como você pode ajudar:
1. Escuta ativa
Para apoiar quem passa pelo luto perinatal é importante ouvir mais do que falar, permitindo que os pais expressem sua dor sem interrupções ou julgamentos. Evite frases feitas como “você pode ter outro” ou “foi para o melhor”, que minimizam a perda.
2. Apoio a ambas as partes
O cuidado deve ser estendido tanto à mãe, como ao pai, não reforçando o estereótipo de que o pai deve ser “forte” e não demonstrar seus sentimentos.
3. Ajuda prática
Você pode também ajudar com tarefas, como cuidar de outros filhos, fazer compras ou demandas domésticas. É importante não tentar adivinhar as necessidades: pergunte diretamente “como posso te ajudar hoje?”
4. Validação do luto perinatal
O acolhimento a quem teve uma perda gestacional pode vir também em forma de reconhecimento dessa perda como real e significativa, usando o nome do bebê (se houver) e legitimando a tristeza.
5. Presença respeitosa
Muitas vezes, um abraço silencioso, um olhar de compreensão ou segurar a mão valem mais que qualquer palavra. É importante não pressionar por uma “recuperação” ou ficar insistindo em distrações e conselhos não solicitados.
Ver também → Para: pais que perderam filhos.
3 histórias reais sobre a perda gestacional
Quando figuras públicas decidem compartilhar suas próprias histórias de luto perinatal, elas não apenas validam a dor de milhares de famílias, mas também emprestam palavras onde antes havia apenas um vazio mudo.
As recentes experiências de Tati Machado, Micheli Machado e Lexa tornam visível e palpável essa dor, transformando-a de uma experiência solitária em uma narrativa coletiva de perda, resistência e amor que se recusa a ser calado.
💛Tati Machado & Bruno Monteiro perderam o filho Rael

A apresentadora e jornalista Tati Machado e o marido, o cineasta Bruno Monteiro, perderam seu primeiro filho, Rael, em maio de 2025, quando Tati estava com 33 semanas de gestação (oito meses).
A perda foi constatada após ela perceber a ausência de movimentos do bebê e ir à maternidade, onde descobriu-se que os batimentos cardíacos haviam cessado.
Em um relato emocionante um mês após a perda gestacional, Tati Machado descreveu a experiência como “aprender a ser pais sem filho no colo” e “o exercício constante do amor sem toque”.
No Instagram, a jornalista compartilhou:
“A gente volta pra casa no vazio. O gps ainda guarda no histórico o endereço da obstetra, do laboratório… A música que toca na playlist é a que sempre nos acompanhava. As roupas no varal são aquelas mais confortáveis, afinal, nada cabia mais. Na cama, o travesseiro de grávida. No banheiro, o creme que fazia parte do ritual pós banho. As vitaminas, as roupinhas pra lavar, o quarto pra arrumar, o cheirinho de bebê que já tinha dominado tudo… tava tudo lá.”
Ela também falou sobre a dor de perder o futuro que havia sido idealizado, compartilhando que se imagina amamentando, mesmo sem saber se conseguiria, e que essa memória de algo que não viveu dói profundamente.
🧡Micheli Machado, Robson Nunes & a filha Morena perderam Liz

No mesmo fim de semana de maio de 2025 em que Tati sofreu sua perda, o casal de atores e humoristas Micheli Machado e Robson Nunes, além da filha Morena, também passaram pela dor do luto perinatal na reta final da gestação. Em suas redes sociais, ela compartilhou:
“O amor mais puro, mais lindo e mais verdadeiro que alguém possa sonhar em ter, de repente… a dor mais horrível, profunda mais devastadora que possa existir.”
Micheli precisou passar por uma cesárea de emergência, mas o bebê não sobreviveu.
💜Lexa & o noivo Ricardo Vianna perderam a filha Sofia

A cantora Lexa e o noivo, o ator Ricardo Vianna, viveram o luto gestacional pela perda da filha Sofia, apenas três dias após um parto extremamente prematuro em fevereiro de 2025.
Lexa estava com 25 semanas e 4 dias de gestação (cerca de seis meses) quando foi diagnosticada com um quadro raro e grave de pré-eclâmpsia precoce e síndrome HELLP, condições que ameaçam a vida da mãe e do bebê.
Em um desabafo sincero nas redes sociais, ela contou que lutou pela vida da filha e pela própria durante 17 dias de internação e descreveu a dor como algo que nunca tinha visto igual. Lexa compartilhou no seu Instagram:
“Vivemos os dias mais desafiadores das nossas vidas juntos e fortes. Ver nossa filha na incubadora, linda e lutando pela vidinha dela, ficará para sempre nas nossas memórias.”
O papel do acolhimento psicológico
Além do suporte de familiares e amigos, é crucial reconhecer quando é a hora de buscar ajuda profissional. O acompanhamento psicológico especializado é um recurso valioso para ajudar a processar emoções tão complexas.
Como o acolhimento e o suporte psicológico podem ajudar
Em um momento de dor tão profunda e singular como o luto perinatal, ter amparo e apoio psicológico especializado surgem como um farol, oferecendo um caminho para que pais e mães possam reconstruir sua história. O acolhimento psicológico para quem vive o luto gestacional ajuda a:
- Validar o sofrimento e evitar a dor silenciosa;
- Processar emoções complexas, acolhendo a tristeza, culpa, raiva, vazio e compreender que essas reações são comuns no processo de luto;
- Prevenir complicações psicológicas, como depressão, transtorno de ansiedade e estresse pós-traumático;
- E ressignificar a experiência, através da reconstrução de sentidos e da elaboração de novas perspectivas de futuro, respeitando o tempo único de cada pessoa.
Quando damos voz ao que nos assusta, quando nomeamos a dor e a ausência, começamos a desatar os nós que o luto cria em nossas almas.
Especialistas nos ensinam que ao enfrentarmos o fim de um sonho, abrimos espaço para a ressignificação e, com o tempo, aprendemos a conviver com a ausência sem deixar que ela nos defina. E é justamente na coragem de romper esse silêncio que encontramos um dos maiores gestos de acolhimento.
🗣️ Palavra de especialista: luto perinatal por Daniela Bittar (Grupo Colcha)

Para aprofundar esse artigo extenso, porém, necessário, o Além da Perda convidou uma autora especialista desenvolver o tema: a psicóloga sistêmica-familiar e especialista em luto perinatal Daniela Bittar, com 20 anos de experiência em atender mulheres, gestantes e puérperas com enfoque na reestruturação familiar. Não perca:
A importância de falar sobre a morte e o luto
Falar sobre a morte não a afasta, mas o silêncio pode transformar o desconhecido em um temor que nos paralisa. Como um vento que sopra invisível, a morte é parte do ciclo da vida, ainda que difícil de aceitar.
Quando damos voz ao que nos assusta, quando nomeamos a dor e a ausência, começamos a desatar os nós que o luto cria em nossas almas.
Especialistas nos ensinam que ao enfrentarmos o fim de um sonho, abrimos espaço para a ressignificação e, com o tempo, aprendemos a conviver com a ausência sem deixar que ela nos defina.
No luto perinatal, o impacto é ainda mais agudo, pois é a vida que foi interrompida antes de começar, e é essencial que os pais possam encontrar palavras e lágrimas para expressar o peso dessa ausência.
O luto perinatal como um processo singular
Perder um filho que mal conheceu a luz desafia o entendimento comum do que é o luto. Não é apenas a ausência de alguém que se amou, mas a ausência de um futuro que se sonhou.
Como um livro cujo primeiro capítulo jamais foi escrito, essa perda traz uma dor que abala as fundações da identidade dos pais.
Torloni nos lembra que “a morte de um filho é a morte de um sonho”, e quando não há memórias tangíveis, como o som de uma risada ou o calor de um abraço, o adeus torna-se ainda mais etéreo, quase como despedir-se de um sopro de vento.
Validar essa dor, acolhê-la com cuidado, é permitir que os pais encontrem um caminho para lidar com o vazio e a saudade de um futuro nunca vivido.
As fases do luto: da negação à aceitação
Elisabeth Kübler-Ross nos deixou o mapa das emoções que atravessam o coração em luto: negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, aceitação. Mas esse mapa não é uma linha reta; é um caminho sinuoso, cheio de curvas e retornos.
Uma mãe, ao perder seu bebê, pode inicialmente se agarrar à negação, como quem tenta segurar um punhado de areia que escorre entre os dedos. Logo, a raiva pode surgir, uma tempestade silenciosa que busca culpados no céu ou na terra. Depois, talvez ela tente barganhar com o destino, oferecendo qualquer coisa em troca de um milagre que nunca vem.
E quando a barganha não traz o alívio esperado, a tristeza se instala, profunda como o oceano, até que, aos poucos, a aceitação começa a se desenhar no horizonte, não como um fim, mas como uma nova forma de continuar a viver com o amor que ficou.
Aproveite e confira → As fases do luto: conheça cada um dos 5 estágios.
O modelo dual do luto: oscilando entre confronto e evasão
Margaret Stroebe e Henk Schut nos presentearam com uma nova visão do luto: a oscilação entre confrontar a dor e se permitir evadi-la.
No luto perinatal, essa dança é constante. Durante o dia, uma mãe pode se perder nas tarefas diárias, nas exigências da vida, evitando a dor que paira como uma sombra.
Mas, à noite, na quietude que o mundo traz, o confronto se torna inevitável, e a tristeza se revela, forte, densa, como um rio que transborda.
E essa alternância, dizem os estudiosos, é saudável. É o movimento entre a lembrança e o esquecimento que permite que o luto se processe de forma menos extenuante, oferecendo momentos de respiro em meio à dor.
Luto geral: as diferentes formas de luto
O luto é a resposta da alma à perda de algo ou alguém que amamos. Pode ser a morte de um ente querido, a partida de um amigo ou até o fim de um capítulo importante de nossas vidas.
Freud descreveu o luto como o processo de reconciliação com a ausência, e, embora cada luto seja único, todos compartilham o mesmo fio: a dor da separação.
Algumas pessoas atravessam esse caminho com mais rapidez, enquanto outras se veem presas em uma etapa, como se o tempo tivesse parado.
No entanto, o que a ciência nos revela é que não há tempo certo para a dor. O luto é pessoal, e cada um de nós precisa de uma rede de apoio, seja de amigos, familiares ou profissionais, para nos ajudar a encontrar a luz novamente.
Leia também → O que ninguém te conta sobre o luto (mas você precisa saber).
O papel de um serviço funerário acolhedor
Há momentos em que um simples gesto de carinho pode transformar o luto. Um serviço funerário que acolhe com amor e respeito, que permite que os pais vejam, toquem e se despeçam de seus bebês, ajuda a tornar concreta uma dor que, por vezes, parece intangível.
Rituais simbólicos, como guardar uma manta ou as impressões dos pés pequeninos, oferecem um ponto de ancoragem no mar revolto da perda.
Funerárias que acolhem não apenas o corpo, mas o coração dos enlutados, que respeitam a espiritualidade e os desejos das famílias, podem suavizar o impacto do luto e permitir que a vida, mesmo interrompida, seja honrada com dignidade e amor.
Conclusão: unindo ciência e espiritualidade
O luto é um processo que nos coloca diante de nossa humanidade mais profunda. A ciência nos oferece mapas e modelos, mas é a espiritualidade, o amor que perdura além da morte, que muitas vezes dá sentido à jornada.
Quando profissionais de saúde e serviços funerários atuam com empatia e humanidade, eles transformam o luto de uma experiência de desespero em uma oportunidade de cura, crescimento e, quem sabe, aceitação. Porque, no fim, o amor permanece, e é ele que nos guia pelas trilhas sinuosas da saudade.
**Atualizado por Camila Toledo em 03/10/2025.
 
                                