A depressão de fim de ano é uma síndrome comum e pode estar relacionada com diversas causas, inclusive o luto.
Enquanto todo mundo parece estar feliz e em clima de festa, outra parcela das pessoas se sentem deprimidas. Se esse é o seu caso, saiba que você não está sozinho.
Essa sensação tem nome e causa e, neste artigo, vamos explicar o que é essa depressão de fim de ano e mostrar como ela tem muito a ver com um sentimento de luto — seja por perdas, saudades ou expectativas que não se cumpriram.
Entender isso é o primeiro passo para tentar lidar melhor com essa época. Continue a leitura!
Depressão de fim de ano: o que é?
O que chamamos de depressão de fim de ano não é um diagnóstico oficial da psicologia. Em vez disso, trata-se de um quadro emocional muito comum com sintomas de tristeza, ansiedade, estresse e desânimo que podem surgir ou se intensificar especialmente em novembro e dezembro.
Essa tristeza de fim de ano, também conhecida popularmente por “dezembrite” está fortemente ligada ao contexto dos últimos meses do ano: uma relação entre a “aparente felicidade” e/ou frustrações.
Isto é, enquanto as propagandas na tv e as redes sociais mostram pessoas felizes se preparando para as celebrações de Natal ou Ano Novo, muitas outras pessoas enfrentam uma realidade totalmente diferente: a saudade de quem já partiu, a solidão ou até mesmo a frustração por metas não alcançadas no ano.
Sintomas da “dezembrite” ou tristeza de fim de ano
Essa tristeza sazonal afeta tanto o estado emocional como o comportamento e até o corpo através de alterações físicas. Veja alguns dos sintomas possíveis:
Sintomas emocionais
😞 Sensação de tristeza e vazio: uma melancolia persistente e aparentemente sem causa, que contrasta com o “clima de alegria” ao redor. É comum a pessoa se auto desvalorizar e se sentir de culpada por não estar feliz numa época que “deveria” ser alegre.
😞 Aumento da ansiedade e irritabilidade: é possível também a diminuição da tolerância a pequenas frustrações, levando o indivíduo a ficar mais irritado.
😞 Isolamento social: a pessoa tende a evitar compromissos, encontros e festas que antes poderiam ser prazerosos.
Sintomas Físicos
⚠️ Alterações no sono: quem está com tristeza de fim de ano pode ter insônia ou ainda sono excessivo.
⚠️ Mudanças no apetite e energia: o apetite pode diminuir ou aumentar, muitas vezes com maior procura por carboidratos e doces. Além disso, a tristeza de fim de ano pode ocasionar um cansaço sem explicação e falta de energia, mesmo após horas de descanso.
⚠️ Dores e mal-estar: podem ocorrer ainda mal-estar geral, dores no corpo e outros sintomas físicos sem uma causa específica.
Possíveis causas ou gatilhos da síndrome de fim de ano

A síndrome de fim de ano pode ser desencadeada por uma combinação de fatores emocionais, sociais e psicológicos que se intensificam nesse período. Veja alguns desses fatores:
Expectativas frustradas
A avaliação do ano que está se acabando pode trazer frustrações e sensação de fracasso e tempo perdido por possíveis planos que não se cumpriram ou metas que não foram alcançadas nesse tempo.
Felicidade “obrigatória”
A ocasião das festas pode trazer uma sensação de estar deslocado da felicidade que as outras pessoas estão sentindo, causando inclusive culpa por não estar feliz.
Conflitos familiares
A obrigatoriedade do encontro com a família para comemorações de fim de ano pode gerar expectativa e tensão por conflitos mal resolvidos ou lembranças dolorosas.
Incerteza sobre o futuro
O medo do que pode estar por vir no novo ano que se inicia também pode ser um gatilho para a depressão de fim de ano.
Saudade de pessoas queridas
Comemorações onde se reúne toda a família podem despertar tristeza profunda ao lembrar de pessoas que se afastaram ou mesmo que já partiram, intensificando a sensação de ausência.
Mas qual a relação entre a tristeza de fim de ano e o luto?
O período festivo do fim de ano intensifica a consciência das perdas. As tradições e encontros tem uma forte ligação com a memória afetiva, funcionando como lembretes concretos do que foi perdido.
Isso cria um contraste doloroso entre as lembranças de como costumavam ser as festas no passado e a realidade atual.
É comum que quem passa pelo luto neste período reviva mentalmente os momentos felizes que teve com a pessoa que perdeu, o que pode aprofundar a sensação de saudade e vazio. Isso pode ainda piorar pela pressão social para estar feliz numa época de festas, invalidando a dor do luto.
4 tipos de luto que a depressão de fim de ano pode ativar

O luto não se refere apenas à perda de uma pessoa querida que faleceu. Ele pode surgir por diversas perdas ao longo da vida:
1. Luto por um ente querido
As festas são marcadas pela presença das pessoas amadas, e a cadeira vazia à mesa torna a ausência brutalmente visível.
2. Luto por um relacionamento
Fim de casamentos, namoros ou amizades profundas. O ano novo que se aproxima pode simbolizar a solidão de seguir em frente sem aquela pessoa.
3. Luto pela saúde
Diagnosticar uma doença ou sentir o corpo mudar com o tempo pode gerar um luto pela saúde perdida e pela vida que se tinha antes.
4. Luto de saudade x dor de luto
A saudade é um sentimento que, embora possa ser doloroso, é normal e pode ser suportável e até trazer um certo conforto ao lembrar de momentos bons. Já a dor do luto relacionada à depressão de fim de ano é mais complexa. Ela pode se manifestar como:
- Um isolamento voluntário para evitar situações que lembrem a perda;
- Crises de choro ao se deparar com uma decoração, um cheiro ou uma música específica que revivam memórias de quem perdeu;
- Irritabilidade com amigos e familiares que insistem para que a pessoa de luto “participe” das festas;
- Uma sensação de aperto no peito e angústia que parece não passar.
Leia mais → O que ninguém te conta sobre o luto (mas você precisa saber).
Entenda a diferença: depressão de fim de ano x depressão clínica
Como falamos anteriormente, a depressão de fim de ano é uma síndrome comum e não um diagnóstico, como a depressão clínica. A principal diferença está na intensidade, duração e no impacto que os sintomas causam na vida da pessoa.
A depressão de fim de ano é temporária e ligada ao período das festas, podendo causar desânimo, mas a pessoa geralmente consegue manter suas atividades de rotina.
Já a depressão clínica é uma doença psiquiátrica que afeta corpo e mente. Ela tem sintomas persistentes, durando pelo menos duas semanas, e aparecendo na maior parte do dia por quase todos os dias.
Esse transtorno pode se originar de diversas causas, incluindo genética, bioquímica cerebral e fatores psicológicos. A depressão clínica causa comprometimento severo no trabalho, estudos, vida social e cuidados pessoais.
Sintomas de depressão clínica
É crucial estar atento a sinais que vão além de uma tristeza passageira. Segundo fontes médicas, os sintomas da depressão clínica incluem:
– Humor deprimido persistente: sensação de vazio, tristeza ou irritabilidade.
– Perda de interesse ou prazer: desinteresse total ou parcial em atividades que antes eram prazerosas.
– Alterações no sono e apetite: pode ser insônia ou sono excessivo, perda ou ganho de peso.
– Fadiga ou perda de energia: cansaço constante, onde até pequenas tarefas exigem um esforço enorme.
– Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva: autocobrança exagerada e fixação em fracassos passados.
– Dificuldade de concentração: lentidão para pensar, tomar decisões ou lembrar de coisas.
– Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio: Este é um dos sinais mais graves, que pode variar de um desejo de “sumir” até planos concretos de autoextermínio.
Recomenda-se buscar a avaliação de um profissional de saúde mental (um psiquiatra ou psicólogo) se os sintomas persistirem por mais de duas semanas; se houver impacto na sua capacidade de trabalhar, estudar ou se relacionar e se você estiver tendo pensamentos sobre morte ou suicídio.
⚠️Nota de Cuidado → se você ou alguém que conhece está passando por sofrimento intenso, procure ajuda profissional imediatamente. Em caso de crise ou pensamentos suicidas, você não está sozinho. Ligue para o Centro de Valorização da Vida (CVV) no 188 ou acesse o chat online no site www.cvv.org.br. O atendimento é gratuito, 24 horas por dia, e sigiloso.
Afinal, como lidar com a depressão de fim de ano?

Compreender que você não está sozinho nesses sentimentos é o primeiro passo. O próximo, e mais importante, é aprender a lidar com eles de forma saudável, permitindo-se viver este período com mais leveza e menos cobrança.
A) Permita-se sentir
Aceitar a tristeza e a frustração sem julgamento entendendo que são válidas reduz a autocobrança e a culpa.
B) Pratique o autocuidado
Manter a rotina de sono, alimentação, exercícios e até reservar um tempinho para os hobbies fortalece a saúde mental e física.
C) Reconheça seus limites e priorize você
Você não precisa aceitar todos os convites sociais ou se sobrecarregar com preparativos. Reconhecer seus limites e dizer “não” é um ato de cuidado consigo mesmo. Priorize os compromissos que realmente tragam bem-estar.
D) Organize e planeje
O acúmulo de tarefas é uma grande fonte de estresse. Criar um planejamento para presentes, finanças e compromissos pode aliviar significativamente a sensação de caos.
E) Valorize suas conquistas
Busque reconhecer o que você conseguiu ao longo do ano, mesmo que sejam pequenas vitórias. Isso ajuda a combater a sensação de fracasso que o balanço anual pode trazer.
F) Busque o apoio de quem você confia
Conversar com amigos ou familiares de confiança sobre o que está sentindo pode oferecer suporte emocional e diminuir a sensação de solidão e isolamento.
Confira também → Grupos de Apoio: o poder da troca no processo do luto.
G) Encontrando significado para além da tristeza
O fim de ano pode ser um convite à ressignificação. Em vez de um período que apenas evoca a falta, ele pode se tornar um momento de acolhimento das próprias memórias e do próprio ritmo.
Honrar a saudade não significa se entregar à dor, mas sim permitir que o carinho por quem partiu – ou por tempos que se foram – continue existindo de uma nova forma, talvez em um ritual tranquilo, em uma lembrança compartilhada com alguém de confiança, ou simplesmente no silêncio que acolhe o que sentimos.
Não há uma maneira certa de sentir: cada pessoa vive essa época de forma única, e está tudo bem se a sua celebração for o seu próprio cuidado, longe do barulho das festas.
Como vimos, a depressão de fim de ano é uma resposta compreensível a gatilhos como o balanço anual, a pressão social pela felicidade e, sobretudo, ao luto por perdas diversas.
Ela nos lembra que a saudade e a tristeza são humanas, mas também nos alerta para quando esses sentimentos se tornam esmagadores.
Se este período é desafiador para você, saiba que não está sozinho. O luto e a tristeza fazem parte da vida, e buscar apoio – seja em um amigo, um familiar ou um profissional – é um gesto de coragem e cuidado consigo mesmo.
Caso se sinta à vontade, aproveite para compartilhar conosco sua opinião ou experiência nos comentários!