*Por Juliana Araújo – Psicóloga
Eu, particularmente, não uso o termo superar na minha clínica, nem mesmo em minha
vida pessoal. Bom, isso depende do que significa a palavra superação para cada um de
nós. Acredito que o termo – adaptação – seja o que melhor se encaixa quando falamos
sobre perdas importantes. É isso: o trabalho de luto tem a ver com o adaptar-se a uma
nova vida sem a presença física desse alguém que nos foi tão importante. Preste atenção:
eu falei sem a presença física, porque ainda que não tenhamos o que foi perdido
fisicamente, podemos simbolizá-lo de alguma outra forma. Ache a sua! Em um vídeo, em
uma foto, em uma história, em um objeto, espiritualmente, quem sabe?
Luto não é somente sobre perder pessoas, mas algo além disso:
Te engana se acreditas que o luto acontece somente quando há a morte de alguém. Luto é
sobre qualquer perda significativa. Um pet que morreu, um sonho perdido, um objeto de
valor que foi roubado, os bens materiais que tanto trabalhamos para conquistar e que
podem desaparecer com a revolta da natureza. Luto acontece quando passamos por
mudanças corporais, quando envelhecemos, quando recebemos um diagnóstico, quando
nos damos conta da nossa incapacidade frente a uma situação. Luto é mudança. É
renúncia.
O luto tem prazo de validade?
Acho interessante quando sou questionada sobre o famoso “prazo de validade” do luto.
Certamente esse questionamento traz – algumas grandes – angústias: “Até quando vou
sentir isso?”, “Será que sou normal ou estou doente?”, “Mas tanta gente superou mais
rápido que eu, o que tem de errado comigo?”.
Como seria possível dar um prazo de validade a um processo tão individual? Somos
diferentes. Sentimos diferentes. Perdemos coisas diferente, de formas diferentes.
Rebobina tua memória e volta comigo lá para a época da escola: ainda que todos
estivessem na 1ª série, uns demoravam mais para aprender a ler e escrever do que outros,
certo? Certo. Por que isso? Por questões subjetivas de aprendizado, por estímulos
diferentes dentro de casa, por questões de interesse, por respostas diferentes do próprio
cérebro e do nosso corpo em relação a informação que era recebida.
Com o luto é assim que funciona: se somos tão diferentes uns dos outros, qual a
possibilidade de alguém determinar o tempo ideal para um luto acontecer? Nenhum luto
é igual o outro, então como padronizar esse tempo? Isso certamente invalidaria uma dor
tão legítima de ser sentida e elaborada.
Mas é claro, isso não significa que não tenhamos que nos atentar a alguns sinais: a ideia
do trabalho do luto é que possamos, ao longo do tempo, aceitar a realidade dessa perda e
ressignificar a nossa relação com o que foi perdido, podendo seguir em frente, de certa
maneira, nas nossas relações, vida pessoal, vida profissional e assim por diante. Se atente
aos sinais, a frequência, a intensidade que essa dor e esse sofrimento vão permeando esse
processo. A ajuda profissional pode ser muito bem vinda, nesse momento – e em tantos
outros (acho que já superamos toda aquela coisa de que só faz terapia quem é louco, né?
Ou pelo menos deveríamos ter superado).
E as fases do luto, existem?
As fases do luto se tornaram uma imensa polêmica, porque assim como em toda profissão,
existem pessoas que fazem mau uso da teoria. Mas a teoria em si não é o problema, não
nesse caso, e sim a forma que ela é colocada em prática, pelos profissionais.
As fases do luto foram propostas por Elisabeth Kluber-Ross, uma psiquiatra que se
dedicou a temática do luto e da morte e que trouxe as fases do luto como uma teoria
importantíssima para o nosso meio.
Ela elencou as 5 fases do luto: negação, raiva, negociação ou barganha, depressão e
aceitação.
E qual a polêmica, afinal? Com o avanço dos estudos sobre a vida e o perder, sabemos
que o processo de luto é algo individual. As fases não acontecem de forma igual para
todos nós e muito menos de forma linear. O processo de luto é um processo oscilatório.
Não existe linearidade. A vida não é linear, para ser mais direta. Logo, um processo de
luto também não teria como ser.
Essa teoria das fases certamente colaborou para o entendimento do que é um processo de
luto, basta fazer bom uso da mesma.
O que pode me ajudar a passar por um processo de luto?

Eu quero ressaltar dois fatores protetivos do luto, que pude observar – e muito – na minha
prática clínica a potência que ambos têm, e não só na minha prática clínica, mas nos
artigos que leio, nas trocas que tenho com outros profissionais e na minha vida pessoal,
também:
A espiritualidade e a rede de apoio.
Bom, a rede de apoio seria uma rede formada por pessoas as quais tu consideras
importantes para ti de alguma maneira: seja família, amigos, pessoas do trabalho. São
pessoas as quais tu confias, te sente bem, e te dão suporte.
Ter com quem contar em momentos difíceis é importantíssimo. Isso não quer dizer que
em alguns momentos não vamos querer nos isolar – algo que acontece durante o luto –
mas reconhecer quando te aproximar de alguém e pedir ajudar, um consolo, um abraço
também é importante. Muitas vezes, só de saber que temos alguém ali, caso a coisa aperte,
já nos alivia.
A espiritualidade, e aqui quando falo de espiritualidade falo de qualquer coisa que seja
sagrada para ti (seja um conceito, uma filosofia de vida, uma imagem sagrada, uma
religião específica), pode ser um fator protetivo durante o processo de luto. É na
espiritualidade que muitas pessoas enlutadas encontram respostas, caminhos a seguir,
afeto, cuidado, suporte.
Desejo que teu processo de luto seja um processo real. Seja um processo teu. Sem grandes
comparações. Sem grandes interferências externas de pessoas dizendo como tu deve ou
não viver esse processo. Mas ainda que essas pessoas interfiram, lembre-se desse texto.