Carta Aberta Para a Mãe de Ninho Vazio

Reflexões

Eu poderia começar dizendo que, quando uma mãe perde um filho, todas perdem um pouco também.

Acredito que essa frase seja o mais próximo da empatia que alguém pode transformar em palavras, mas não é suficiente. Não chega perto da dor de ter sua cria arrancada dos braços, do útero, do coração. E, pasmem, você não pode culpar ninguém. Você não pode se vingar. Afinal, de quem seria a culpa? Quem tem essas respostas?

Não vê-lo crescer, não ouvir suas primeiras palavras e passos. Será um eterno “se ele(a) estivesse aqui”, imaginar quais seriam seus gostos, com quem se pareceria.

Muitas vezes, não há sequer uma foto para guardar. E, se há, ela não se atualiza. Os olhos não se movem, o cabelo não cresce, não existe reciprocidade de afeto — essa troca tão essencial para as relações.

O cérebro, mesmo com toda sua plasticidade, falha miseravelmente na busca por formas de enfrentar um evento como esse. Ele não tem “memórias-base” que ajudem a decidir qual caminho seguir.

Ele cria, no imaginário, diversos cenários, rostos e sensações. Mas o vazio de nunca saber como realmente seria continua existindo.

Resta, então, abraçar um sonho, uma idealização que, por um tempo — semanas, meses ou anos —, foi um filho.

Em meio a tantos sentimentos de injustiça, raiva, desamparo, perguntas sem respostas e culpa, surge uma necessidade quase insana de voltar no tempo, apenas para sentir um cheiro, um olhar, uma chance de mudar esse destino.

Não permita que o título de mãe lhe seja retirado. Não invalide sua dor nem limite seu tempo de luto.

O vínculo não possui requisitos. A mãe que chora por uma perda gestacional de poucas semanas precisa de um abraço, assim como a mãe de um filho que já batia palminhas.

O ninho está vazio para ambas. No fim do dia, não existe cobertor que aqueça o inverno de viver sem alguém que se gerou. A inversão do ciclo natural da vida deixa um frio imensurável: ver partir aquele que se viu nascer.

Um forte abraço.

Conheça o Autor

Psicóloga clínica, formação em psicologia do luto, ACT, psicopatologia e TCC

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